segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Começa a Maratona







Olá amigos concurseiros! Hoje vou falar sobre a hora da largada, quero dizer, sobre o momento em que REALMENTE eu levantei a bunda da cadeira e comecei a correr atrás do prejuízo. Imaginem a corrida de São Silvestre. Lá no meio estou eu, Katilene Carla, a mais nova integrante da maratona. A câmera da televisão passa por mim e eu abro um imenso sorriso. Em seguida, mando um beijo para a família e mostro a placa dizendo: "É nóis! Vade Mécum tem poder!". Era assim que eu estava me sentindo quando resolvi sair de casa à procura de material para estudar para concursos. A ansiedade me invadiu de tal forma que não tive paciência para olhar vitrines de lojas de sapatos, minha segunda maior paixão, depois do meu namorado João Pietro. 
Eu só sei que entrei pela porta do shopping encarnando "A Obstinada" e à passos largos cheguei rapidamente à livraria. Caminhei por entre as prateleiras olhando cada uma, caçando o setor de livros para concursos. Meu olhar percorria tudo como se fosse o RoboCop. De repente, meus olhos brilharam de satisfação quando li na placa: "Concursos Públicos". Avancei em direção à prateleira, como uma onça que vai atacar a caça. Ao deparar-me com todos aqueles livros, dei mais uma passada de olho RocoCop. "Como Passar Em Concursos Públicos", "Vencendo a Batalha dos Concursos", "Você Pode Passar", "1000 Questões de Concurso Público", dentre outros. Foi então, que um livro chamou a minha atenção. Na capa estava escrito "milhares de cópias vendidas". Era de um tal de W. Drougas. Fiquei impressionada, afinal, se tanta gente havia comprado, presumia-se ser bom.
Ignorante, mal sabia eu que aquela era a Bíblia dos concurseiros.
– Precisa de ajuda? – interrompeu-me um rapaz. Fitei-o e vi o crachá da loja, onde estava escrito o nome Josuel.
– Obrigada, mas acho que já encontrei o que queria. – respondi confiante, com um sorrisinho de quem estava sendo incomodada. Nunca gostei de vendedores que oferecem ajuda sem pedirmos. Além de soar como intromissão, parece que estão nos vigiando para ver se estamos roubando alguma coisa. Para meu espanto, o homem não se deu por vencido. Acho que ele não tinha muito o que fazer.
– Vai prestar concurso público? − perguntou.
Olhei para ele, com pouca paciência e respondi:
– È o que parece, não é?
– Todo mundo agora quer prestar concurso público! − rebateu o vendedor, com ironia.
Aquela frase ecoou nos meus ouvidos de maneira incômoda. Senti uma certa raiva subindo pela nuca e atingindo a cabeça em uma pontada. Era a primeira vez que eu ouvia tal comentário. Não que eu já não soubesse de tal verdade, mas reforçar um fato desagradável sempre incomoda e muito. Fiquei imaginando o Maracanã lotado, como no show da Ivete, e todo mundo gritando: “Aha Uhu, o concurso é nosso”. Fiquei até tonta só de imaginar. Acho esse tipo de comentário um tanto pejorativo, ou quem sabe até invejoso, já que, se realmente todo mundo quer prestar concurso, quem não está nessa deve se sentir meio marginalizado.
Permaneci em silêncio, com expressão de náusea.
– Eu ia recomendar esse livro mesmo. É o que mais sai. − afirmou o rapaz, rompendo o silêncio. – Se precisar de mais alguma coisa, estou à disposição.
O vendedor saiu como uma barata tonta pela loja, sem saber sequer para onde estava indo. É incrível como sempre tem alguém preparado para desanimar um concurseiro. Parece que há um certo prazer nisso.
Depois daquele episódio, fui para a parte de livros de Direito procurar um Vade Mecum atualizado. Esse sim, o Vade Mécum, é o livro de cabeceira dos concurseiros. O oráculo, o conselheiro e porque não dizer, o melhor amigo. Porque concurseiro que é concurseiro não estuda com apostila.
Fui embora para casa carregando duas bazucas para a guerra: o Vade Mecum e o livro do W. Drougas.



4 comentários:

  1. hahahaha... é dura essa nossa vida de concurseiros - ou desempregados/desocupados para a maioria que não compartilha do nosso objetivo.
    Mas é assim mesmo, afinal, quem não aguenta bebe leite!! espetacular seu texto! beijos!

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  2. Também estou nessa! Foi a melhor saída que encontrei para minha vida. Economista, enfiei o diploma dentro da gaveta, casei e fui cuidar de filhos, mamadeiras e cuecas. 22 anos depois, quando estava prestes a me aposentar, levei um belo chute no traseiro. Não me arrependo do que fiz, mas não faria novamente.
    Ganhei de presente o W. Douglas do meu namorado e quero me tornar uma concurseira profissional e ter minha auto-suficiência.
    É isso aí! To no final da fila, mas a fila anda e o negócio e não desistir.
    Boa sorte pra nós!

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  3. Gente, um colega nosso sentiu-se ofendido com o tratamento que dei ao vendedor. Peço desculpas se ofendi a classe de vendedores, pois não tive intenção. Apenas não gosto de ser incomodada.

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  4. Oi, colega. Bem vida a esta vida (ou falta dela)...

    Também já li o livro do William Douglas, assisti a uma palestra ao vivo com ele e assisti ao DVD umas duzentas vezes.

    Cada vez que penso em desistir, assisto de novo.

    Boa sorte.

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