terça-feira, 24 de agosto de 2010

FILOSOFANDO SOBRE CONCURSOS I : A BUSCA PELA DIGNIDADE


Oi amigos!
Com o passar dos dias comecei a conhecer melhor os colegas do cursinho e fiquei surpresa com uma coisa: tem muita gente batalhadora lá. Tem pessoas de várias idades, dos bem jovens aos da terceira idade; tem pais e mães de família; tem gente desempregada; tem gente insatisfeita com o em prego que tem; tem gente meio perdida, que não sabe bem o que está fazendo lá; tem muita gente desiludida com a profissão; tem empresário falido; tem funcionário público, inclusive. “Ex”, então, tem ex-tudo. Ex-patrão, ex-empregado, enfim, acho que todo mundo que escolhe ser concurseiro é, de certa forma, ex-alguma coisa, porque abriu mão da vida que tinha para assumir um outro caminho. Mas uma coisa é inegável: todos lá, sem exceção, até os perdidos, tem certeza de que estão em busca de uma coisa: dignidade. A dignidade que nunca nos foi oferecida com facilidade nesse país. A dignidade de poucos.
Todo concurseiro quer aquilo que poucos brasileiros tem: um salário que proporcione dignidade. O que é dignidade, afinal? Para mim, é poder pagar um bom plano de saúde (médico e odontológico), poder comprar tudo que é necessário para ter dignidade (medicamentos, comida, vestuário, artigos de higiene e limpeza e, porque não, algumas futilidades também), pagar as contas de água, de luz, de telefone, da internet, ter dinheiro para o combustível do carro, ter carro, ter casa própria, viajar, pelo menos uma vez ao ano, para algum lugar legal, pagar por uma educação decente, seja ensino dos filhos, seja um curso que você sempre teve vontade de fazer e nunca teve dinheiro, como um idioma ou um instrumento musical, ter acesso a tecnologias que melhoram o conforto e a qualidade de vida, enfim, deve ter coisas faltando aqui, mas isso é dignidade para mim. Para ter tudo isso, tem que receber um salário compatível. Não gosto de falar em números porque alguns vão pensar que sou exagerada. Outros podem pensar que sou simplória. É que o valor que se dá ao dinheiro varia de acordo com a classe social e com as necessidades de cada pessoa. Mas dentro do que eu considero justo, quinhentos reais, mil reais e dois mil reais não são suficientes. A partir de três mil, se for líquido, dá para conseguir um pouco de dignidade. O ideal é a partir de cinco mil. Quem é que ganha cinco mil reais líquidos nesse país? Uma minoria. Deveria ser, pelo menos, metade da população. Só que todos sabemos que no Brasil, com exceção de algumas cidades, isso é raro. Então, todos querem fazer concurso, nem tanto pela estabilidade, mas muito pela dignidade de ganhar o suficiente para viver e não apenas sobreviver. Muitos concurseiros, inclusive, aceitam ganhar bem menos do que cinco mil reais, desde que consigam um trabalho, porque até emprego de quinhentos reais está difícil conseguir. Só que a vida não é só comer e pagar contas. O ser humano carece de lazer, de divertimento também. Só que tudo no Brasil é muito caro. O dinheiro não compra muito. Outro dia, vi uma vaga no jornal exigindo curso superior em ADM, pós-graduação, inglês e carro próprio para pagar míseros mil reais. Isso não paga nem o investimento em educação que a pessoa teve.
Enfim, acho que me prolonguei demais, mas precisava falar disso. É triste ver que a dignidade é tão difícil de conseguir por meios honestos e que há tantas pessoas sem ela atualmente. O número de concurseiros não me deixa mentir.
Para encerrar, gostaria de agradecer aos seguidores no twitter e a todos que prestigiam esse blog e identificam-se comigo. Vocês são muito importantes! Obrigada!

4 comentários:

  1. Não acho que todo concurseiro seja um "ex-alguma-coisa", embora seja bem verdade que muita gente se enquadra nessa categoria.
    Com razão, você aponta em seu post algo que me parece triste: muitas pessoas têm de dar uma guinada na vida num momento em que já deveriam estar muito bem estabilizadas - refiro-me a pessoas já casadas, com filhos e uma porção de responsabilidade.
    Não obstante, muita gente, como eu mesmo, sai da faculdade de Direito e enxerga um caminho outro que não a advocacia.
    Assim, não podemos generalizar e falar que todos os concurseiros vieram de algum outro projeto malfadado.

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  2. Olá Katilene, seja bem vinda ao mundo das injustiças. Ou nos adaptamos ou enlouquecemos. Já tentaram me enlouquecer mas nao vao conseguir. Só manter o foco e depois quando vier a aprovação, basta apreciar a cara de taxo daqueles q nao acreditaram na gente ou naqueles q ofereceram 1mil reais de salário.

    Sucesso pra gente
    Adriano Couto

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  3. Sou uma concurseira que quebrou muito a cara em empresas privadas "cada humilhação" agora quero dignidade..já sou funcionária pública e continuo estudando...empresa privada é rogar praga para alguém !!!

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  4. Entendo sua situação Silvania. A maioria das pessoas já passou por humilhações no trabalho, que é Assédio Moral e dá direito a indenização. No entanto, só gostaria de te alertar que esse tipo de problema, o assédio moral, ocorre muito no âmbito público também, porque onde há seres humanos há problemas. Eu conheço uma moça que abandonou o cargo de Técnico Judiciário do MP de um estado que prefiro não citar porque havia tanta fofoca e os promotores eram tão estúpidos (humilhavam mesmo) que ela não suportou ficar. Agora, ela estuda para outros concursos. Tem uma outra moça que trabalha na área da aviação (prefiro não citar a instituição, mas é pública) e está com depressão porque a chefe dela é um monstro e está acacabando com ela. Enfim, não se iluda. Boa sorte! Abraço!

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